Posted by Paulo Mauricio | Posted in acessibilidade , adversidade , Auto estima , Cadeira de rodas , limitaçoes , Preconceito
Foi muito difícil quando soube que precisaria dela pro resto da minha vida…
Estava no hospital em SP e perguntei a Marciah como seria a minha vida a partir daquele momento… espirituosa, habilidosa e sensível, como ela é, procurou me confortar e disse que teria o maior orgulho em passear comigo na cadeira… sempre levando as coisas na brincadeira, tentando tirar o melhor de cada situaçao…
Lembro também da primeira vez que “fui apresentado” a minha cadeira. Eu ja tinha chegado no Rio. Meu neto o Igor providenciou um modelo “moderno” e confortável.
Ela chegou linda e sorridente no hospital Rio Mar, entrou no quarto empurrando a cadeira e me disse: “Vamos descer e dar uma voltinha no seu “carro” novo… seu primeiro passeio tem que ser comigo!”
Foi estranho demais me ver diante daquela situaçao. Senti um misto de medo, angústia, dor e ao mesmo tempo ânimo em poder sair para passear sem estar deitado na maca, sem estar numa ambulância. Eu poderia olhar pra frente, como todos. Há quase dois meses eu só sabia o que era olhar para os tetos.
Era uma tarde agradável, de dezembro. Ela foi conversando comigo todo o tempo, falando coisas positivas, tentando me colocar para cima. Falava da felicidade de poder compartilhar comigo aquele momento, que era tao novo para ela quanto para mim, da importância de estar vivo e de ser ela a me levar para passear pela primeira vez.
Nessa época eu ainda nao conseguia colocar minhas idéias em ordem para poder conversar adequadamente. Mas eu ouvia e olhava tudo. Era muito diferente para mim nao poder fazer aquele caminho de maos dadas com ela… apesar de querer me animar com o jeitinho dela, era uma coisa que eu nao podia controlar… Eu senti muita dor, muita tristeza……
Chegamos a área externa e, na lateral do hospital, havia uma alameda de árvores e ela resolveu me levar até lá. Para quem conhece a Marciah, sabe que vindo dela tudo pode ter uma conotaçao diferente, até o primeiro passeio em cadeira de rodas que poderia ser angustiante ou trágico pode virar algo agradável ou até mesmo uma comédia…
Ela foi entrando comigo entre a alameda, falando da beleza da tarde, do verde das árvores, do entardecer agradável… da felicidade daquele momento…
Nosso primeiro passeio foi realmente inesquecível e fez com que esquecesse aquela tristeza… de repente nos vimos cercados e atacados por centenas de mosquitos, muitos mesmo, como eu nunca havia visto em toda a minha vida. Desesperada, ela nao sabia se espantava os insetos ou empurrava a cadeira. Entao começou a correr, empurrando a cadeira, rindo muito… Os mosquitos estavam grudados no nosso corpo, nos picando, estava famintos! Eu nao consegui espantar nenhum e ela tinha que tirar os que estavam grudados nela e em mim. Foi realmente muito engraçado…
Depois de toda a correria, já no saguao do hospital, caímos na gargalhada, as pessoas passavam, olhavam pra nós, com cara de espanto, com certeza imaginando como duas pessoas poderiam se divertir diante da doença e de uma cadeira de rodas…
Foi assim que eu conheci a minha cadeira e que comecei a ter força e certeza que me desvencilharia dela aos poucos, nao sabia como, mas sabia que conseguiria.
Ainda preciso dela para longos trajetos e continua me incomodando a forma como as pessoas me olham quando estou sentado nela. Aliás as pessoas nao se dao conta de que pela expressao facial, posso perceber que me olham como se estivessem vendo uma “coisa rara”, algo sujo, muito incomum, alguém digno de pena…
E foi assim que ao dizer “Muito prazer cadeira” pude ser apresentado também ao preconceito, às caras feias e expressoes de pena para nós cadeirantes e a falta de acessibilidade!
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